Teoria do Apego: Relevância nos Relacionamentos Amorosos Adultos
Este artigo visa explorar os fundamentos da Teoria do Apego, focando na relevância dos estilos ou padrões de apego na explicação dos padrões amorosos adultos. Os estudos de Bowlby e de Mary Ainsworth com crianças separadas dos cuidadores primários e as extensões da teoria para a vida adulta serão examinadas, destacando a influência dos padrões de apego na dinâmica dos relacionamentos íntimos dos adultos.
Fundamentos da Teoria do Apego
John Bowlby, influenciado pela etologia e pela psicanálise, teorizou que a necessidade de apego é essencial para a sobrevivência e o desenvolvimento saudável da criança. O apego consiste em um conjunto de comportamentos inatos do bebê que visam garantir a proximidade e o contato com o cuidador principal em momentos de perigo ou desconforto, buscando segurança e proteção.
Bowlby focou principalmente na observação de crianças que sofreram separações prolongadas de suas mães ou cuidadores primários. Ele observou órfãs e outras crianças institucionalizadas após a Segunda Guerra Mundial, notando problemas emocionais e comportamentais significativos nas crianças que experimentavam privação materna ou cuidados inconsistentes.
A Teoria do Apego postula que a necessidade de estabelecer vínculos emocionais seguros com um cuidador é uma necessidade inata e essencial para o desenvolvimento psicológico saudável. A qualidade desses vínculos molda os “modelos internos de funcionamento”, representações mentais que influenciam as expectativas e os comportamentos em relacionamentos futuros.
Estudos de Mary Ainsworth e a Situação Estranha
Mary Ainsworth expandiu a teoria através de um estudo clássico na Psicologia do desenvolvimento, chamado de “Procedimento da Situação Estranha”. Neste experimento, os pesquisadores observavam uma série de breves separações e reencontros entre a criança e a mãe (ou cuidador) em um ambiente controlado de laboratório.
As reações da criança, como busca por proximidade, exploração do ambiente, reações à ausência e ao retorno da mãe são classificadas por semelhança gerando os chamados estilos de apego. Os estilos de apego observados no “Procedimento da Situação Estranha” foram classificados como seguro, inseguro-evitativo ou inseguro-ambivalente. Em estudos posteriores, Main e colaboradores identificaram um estilo adicional, o apego desorganizado.
Os Estilos de Apego na Criança
- Crianças com apego seguro demonstravam angústia na separação, mas buscavam e aceitavam o conforto da mãe no retorno, usando-a como base segura para explorar.
- Crianças com apego evitativo mostravam pouca ou nenhuma angústia na separação e evitavam o contato com a mãe no retorno, focando em brincar de forma independente.
- Crianças com apego ambivalente/resistente exibiam grande angústia na separação, mas tinham dificuldade em se acalmar no retorno, buscando e rejeitando o contato com a mãe, mostrando ambivalência.
- Crianças com apego desorganizado exibiam comportamentos contraditórios e confusos em relação à mãe ou cuidador, sem uma estratégia definida para lidar com a separação.
Foi notado que os comportamentos das mães ou cuidadores também influenciavam esses padrões de apego infantil, variando em sensibilidade, responsividade e até histórico de trauma.
Base Científica da Teoria do Apego
A cientificidade da Teoria do Apego é sustentada por uma extensa base empírica, acumulada ao longo de décadas de pesquisa. Estudos demonstraram a estabilidade dos padrões de apego da infância até a vida adulta, reforçando a ideia de que as experiências iniciais de cuidado moldam os relacionamentos subsequentes.
Estilos de Apego nos Relacionamentos Amorosos do Adulto
A noção de apego no adulto emergiu da expansão da teoria original de Bowlby e Ainsworth. Pesquisadores da década de 1980 começaram a explorar como os padrões de apego infantil poderiam influenciar os relacionamentos românticos adultos. Eles propuseram que os adultos formam “modelos internos de funcionamento” que guiam suas expectativas em relacionamentos íntimos.
Modelo de Apego Adulto por Bartholomew e Horowitz
- Apego Seguro: Confortável com a intimidade e a independência, equilíbrio saudável entre autonomia e conexão emocional.
- Apego Ansioso-Preocupado: Busca intensamente intimidade e aprovação, medo da rejeição e abandono.
- Apego Evitativo-Desapegado: Valoriza a independência e autonomia, evita a proximidade emocional.
- Apego Evitativo-Medroso: Deseja intimidade, mas tem medo de se machucar, mostrando comportamento inconsistente.
Quadro Descritivo e Comparativo dos Estilos de Apego no Adulto
Estilo de Apego | Características Principais | Modelos Internos de Funcionamento | Dinâmica nos Relacionamentos Amorosos |
Seguro | Confortável com a intimidade e a independência; equilíbrio saudável entre autonomia e conexão emocional. | Visão positiva de si e do outro; expectativas de disponibilidade e responsividade do parceiro; capacidade de regular emoções e comunicar necessidades de forma eficaz. | Busca intimidade e apoio emocional; expressa necessidades abertamente; lida bem com conflitos; mantém relacionamentos equilibrados e satisfatórios. |
Ansioso-Preocupado | Busca intensamente intimidade e aprovação; medo da rejeição e abandono; pode ser excessivamente dependente e possessivo. | Visão negativa de si e positiva do outro; hipervigilância às necessidades do parceiro; busca constante de validação e segurança; dificuldade em regular emoções, especialmente ansiedade. | Busca proximidade excessiva; ciúme e possessividade; dificuldade em tolerar separações; busca constante de reafirmação do amor e compromisso do parceiro. |
Evitativo-Desapegado | Valoriza a independência e autonomia; evita a proximidade emocional; dificuldade em expressar emoções e necessidades; pode parecer distante e indiferente. | Visão positiva de si e negativa do outro; minimização da importância dos relacionamentos; supressão de emoções e necessidades; foco na independência e autossuficiência. | Dificuldade em se comprometer; evita intimidade e dependência; mantém distância emocional; pode ser evasivo ou indisponível emocionalmente. |
Evitativo-Medroso | Deseja intimidade, mas tem medo de se machucar; conflito entre o desejo de proximidade e o medo da vulnerabilidade; pode ser inconsistente e imprevisível. | Visão negativa de si e do outro; medo da rejeição e do abandono; dificuldade em confiar e se abrir emocionalmente; busca segurança, mas teme a intimidade. | Comportamento ambivalente: busca proximidade e, ao mesmo tempo, a evita; dificuldade em confiar no parceiro; relacionamentos marcados por insegurança e instabilidade. |
Conclusão
A teoria do apego oferece uma estrutura valiosa para a compreensão do desenvolvimento humano e suas implicações para os relacionamentos adultos, especialmente os amorosos. Os estilos de apego, moldados pelas experiências na infância, influenciam os padrões amorosos adultos e a saúde mental. A compreensão desses padrões é fundamental para a prática clínica e para a promoção de relacionamentos mais saudáveis e satisfatórios em todas as etapas do ciclo vital.
Referências
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